quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Mikas...

Há uns anos atrás, enquanto trabalhava num restaurante em part-time, tive o enorme prazer de conhecer uma pessoa muito especial. Impulsivo, encantador, doce, generoso e, acima de tudo, dono do maior coração do mundo. Partilhava o que tinha, o que podia e por vezes o que não podia... Era também teimoso e por vezes exasperante ao ponto de levar alguém à loucura... (nomeadamente com telefonemas a meio da noite para ouvir uma qualquer musica que lhe tinha chamado a atenção). Mas ensinou-me muito. Ensinou-me sobre si, sobre amizade, sobre amor, sobre vida, sobre luta (ele sabia imenso sobre luta) e acima de tudo sobre mim mesma. Perdi a conta às noites que passámos juntos, no carro dele, parados em frente à minha porta a falar. Muitas vezes (a maioria das vezes para ser sincera) eu falava e ele ouvia. Com uma paciência das que dizem só os santos têm. E eu falava. Falava como nunca falei com ninguém, porque ele não julgava. Ouvia. Os anos passaram, como sempre passam. Ele continuou a sua luta com a força de sempre, a fé de sempre, sem duvidar da vitória (pelo menos publicamente...). Encontrou uma mulher à sua altura e seguiu em frente com a vida. Fiz o mesmo com a minha e os caminhos acabaram por se separar. Não houve mais telefonemas a meio da noite, não houve mais serões à porta de casa. Apenas o telefonema ocasional em datas especiais ou quando alguma novidade maior assim o justificava. Foi por telefone que fiquei a saber do transplante (mais um) para tentar vencer o monstro que o perseguia. Foi por telefone que fiquei a saber que tudo correu bem, tão bem que até o tipo de sangue mudou. Foi por telefone que fiquei a saber que as células cancerígenas voltaram, agora não como linfoma mas noutro local, mais dificil de tratar... e foi por telefone que soube, em Dezembro passado, que desta vez as coisas não correram bem... que desta vez, a fé e a força e a esperança não foram suficientes e o monstro venceu. A dor de saber que nunca mais vou atender o telefone para ouvir do outro lado "TONTARIA!!!", ou "Curte-me este som!", a dor de saber que não ai haver nunca mais conversas pela noite dentro, a dor de saber que nunca mais vou poder partilhar nenhuma novidade com ele, nada disso se compara com a dor de saber que me afastei dele quando percebi o que ía a contecer para "amortecer" a dor quando finalmente acontecesse. Péssima ideia. Não "amorteceu" nada. Só tornou a dor ainda pior. Para ti: És a pessoa mais forte que existiu na minha vida. Hoje era o teu aniversário... Lamento que cá não estejas. Será que ainda o celebras aí onde estás agora? Espero que sim... E para ti, hoje, vou para a rua gritar aplenos pulmões "TONTARIAAAA!!!!"


Nunca te esquecerei. Espero encontrar-te outra vez, um dia mais tarde para juntos curtirmos um sonzasso!

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